sábado, setembro 10, 2011



Para que possa escolher
uma mulher de qualidade
faça com que ela mostre
os dentes

Saias finas, sapatos bonitos
Não tem laço de fita
que compete
com a extensão de um sorriso


quarta-feira, setembro 07, 2011

Entre carros e carrinhos

Lá estava eu em mais uma exaustiva aula de legislação de trânsito, com certeza a parte mais odiada dentre as tantas do processo de tirar a CNH. Tínhamos acabado de fazer um simulado e, mesmo faltando alguns minutos para o término, a instrutora havia encerrado as atividades do dia. Não coube a mim outra coisa senão fazer nada. Com o rosto debruçado na mão, passei o olhar sem foco por toda aquela sala cheia de placas, símbolos e definições, que por obra da rotina, eu já sabia de cor e salteado.

De repente, meus olhos que apenas passeavam sem compromisso encontraram um lugar para se fixar atentamente: As miniaturas de carros em cima de um projetor aposentado, que eram usadas para demonstrações de situações como ultrapassagem, baliza, entre outras. Já havia notado a presença delas antes, mas o momento era de tamanho tédio que me possibilitou uma breve lembrança. Quando menor, eu era fanático por carrinhos. Minha coleção pessoal era tão diversificada, ia de esportivos à tratores, eu tinha de tudo. Minha peça favorita era uma réplica exata de uma Ferrari que minha tia trouxe da Itália, meu xodó, pode-se dizer. Comecei a me indagar que não fazia ideia de onde maior parte dessa coleção estava, e também como me julgariam se, com a maioridade oficializada em RG, reestruturasse o vício da época de criança ao comprar carrinhos sem menor pudor, na ala de brinquedos de uma loja.

Na tentativa de moralizar as coisas dentro da cabeça, pensei comigo mesmo que era uma coisa de momento, que como todo bom sagitariano (ou como tentam me convencer dessa ideia), eu realmente não me importava com os carrinhos em si, estava apenas tentando sustentar uma vontade trazida pela minha falta de atenção. De fato, revirei minha casa atrás dos carrinhos e depois de muito trabalho e bagunça achei alguns que eu nem sequer lembrava. Com direito a questionamentos dos meus pais, que queriam entender o porquê daquilo tudo, me encontrei sem respostas. Foi o grito da minha infância, sei lá, aquilo que chamam de “criança interior”. Infelizmente, passou.

Foi então que eu percebi o que difere o adulto da criança: O uso e o julgamento da imaginação. Para a criança, a imaginação abre portas para diferentes mundos e nunca vai trair aquela grande inocência, a qual aquela acredita ser uma verdade incontestável. Já para o adulto, é um peso, e ter fantasias quando a realidade é tão fria e burocrática é mera perda de tempo, e tempo é uma coisa valiosa. Com base nessa teoria pessoal, não existem “adultos” em si, porque todo mundo é um pouco “criança” quando se permite.

Cortando a reflexão filosófica, o importante agora é que eu encontrei meus carrinhos e depois os guardei onde possam ser encontrados novamente, quando a criança gritar de novo. A “vida de adulto” continua e a carteira de motorista parece cada vez mais próxima a cada aula exaustiva de legislação. Dirigir um carro é um dos maiores sonhos de qualquer menino que antes usava qualquer superfície como pista de corrida e tinha a boca como instrumento de efeitos sonoros jamais imaginados em uma via urbana. Para aqueles que perderam seus carrinhos, lhe restam as lembranças de um tempo que não volta mais. Mas para todos nós homens recém formados, há sempre a esperança de recebermos o convite inocente de nossos futuros filhos pra brincar de carrinho. Quer dizer, claro, tudo pelo sorriso da criança, né?

O dia que sai de casa... e não voltei mais.

Num dia desses, numa dessas minhas tardes convencionais. Tão corriqueiro como qualquer outro dia, variava minha atenção entre as apostilas e o computador. Foi quando minha nuca, que estava tão difícil de lidar quanto qualquer um daqueles exercícios de física que eu acabara de fazer, fez valer sua vontade gritando por um descanso. Joguei o resto das obrigações pra cima e sai correndo antes que me acertassem a cabeça.

Resolvi tomar um banho. Não qualquer banho, um daqueles ecologicamente incorretos, que levaria qualquer ambientalista ao suicídio. Não sendo o caso de não me simpatizar pela ideia de um mundo mais verde, mas a tensão entre meus ombros era tanta, como se um desses fosse capitalista e o outro socialista, e resolvessem repassar toda a história da Guerra Fria naquele momento, abaixo da minha cabeça. Comparação hiperbólica, prestes a ser superada por um banho hiperbólico. Depois, a consciência, no menor dos casos, seria limpa pela água corrente. Vamos lá.

Tudo pronto para colocar meu plano em prática, quando no intervalo de esticar meu braço em direção à torneira do chuveiro, o interfone toca. Nunca fora tão agudo ou incômodo como agora. No momento, lembro que pensei que só poderia ser a Lei de Murphy do outro lado, enviada pelo destino. Era pior, era o jardineiro. História a parte, mas fez-se tamanho teatro para cuidar do jardim, para contatá-lo e agora ele buzinava no meu descanso. Outra comparação hiperbólica, mas oportuna, era mais fácil localizar o Bin Laden do que esse cara. Sereno e já trajado, e de certa forma conformado que meu plano maquiavélico de conforto tinha afundado, fui atendê-lo.

Ele queria saber o que era para ser feito na frente da casa, coisa que eu realmente não sabia. Conversamos por alguns minutos no portão sobre preços e jardinagem, e eu fingi arduamente entender sobre os dois. Ele me pediu para mostrar como o canteiro central deveria ser tratado, então saímos do portão. Mal sabia eu que aquela era a minha zona de conforto.

Uma nota paralela: O dia estava lindo, o calor de sempre, mas o sol reinava no céu sobre as nuvens. Eis que acontece, o clímax da história: A um passo de distância da entrada, quando um vento, que suspeito ter origens sobrenaturais, me assopra para fora de casa. O jardineiro percebe minhas pupilas dilatadas e pergunta, para confirmar a minha sina. Faço um sinal de positivo com a cabeça, estampando uma expressão facial negativa. De maneira extremamente educada, dessas que não se vê em tempos atuais, ele ficou para conversarmos um pouco, mesmo depois de tudo resolvido, e eu achei aquilo admirável. Claro, depois de um certo tempo falei que não teria problema nenhum se ele quisesse ir embora, que eu não queria alugar seu tempo. Ele foi, e eu tratei de planejar novamente alguma coisa para fazer, dessa vez porém, sem absolutamente nada além de plantas e um portão bem lacrado ao meu redor.

Sentei na soleira e comecei a organizar pensamentos, nada tão importante, mas com certeza coisas que antes não tinha tirado tempo algum para considerar. Interrompido por um trovão, reparo no céu o que todo o ocorrido me impedira de reparar antes. O tempo mudara, as nuvens começaram a se pintar de cinza, como se para me provocar. “Aqui está o seu banho. Saiu de casa, rapaz, é para se molhar!” Mas por incrível que pareça, me mantive calmo e continuei a caçar atividades, evitar o tédio. Enfiei a mão na caixa de correio e me auto furtei alguns panfletos de propaganda, que mesmo se tratando de inutilidade publicitária, fizeram-se valer por ótimos materiais de arte plástica. Depois de tentativas de esculturas e origamis, fiz o que poderia fazer de melhor com aqueles pedaços de papel: embolar e jogar no lixo.

O tempo continuava nublado, mas parecia pouco provável chover, para a minha felicidade. Entre pensar e experimentar uma carreira de artista plástico, tirei uns bons quinze minutos. Meia hora depois desses, completou-se minha sentença, decretada pela sorte. Me ver do lado de fora de casa rendeu aos meus pais sobrancelhas levantadas e gargalhadas. Que bom. Para mim, de lucro só coube uma lição. Na vida, as coisas nem sempre saem do seu jeito. As vezes você sai no prejuízo. O que não dá é sair sem suas chaves.

Mensagem do autor

Resolvi mudar de casa. O Wordpress é ótimo, mas o Blogspot tem me parecido uma melhor opção. Mesma ideia, mesmo blog. Alguns textos antigos do blog vão vir pra cá, e pretendo colocar muita coisa nova!

Se você nunca viu meu blog, leia a descrição para se situar... Uma boa leitura a todos :-)